IV Festival de Apartamento "Sechiisland (em Campinas)" - Registro Online das Performances Apresentadas

(Postagem originalmente publicada no blog do Grupo Performático AcompanhiA, atualmente extinto)

Originalmente cunhado pelos neoistas nos anos 80, o conceito de Apartment Festival foi apropriado pelo Grupo Performático AcompanhiA para tornar possível a realização de eventos de performance art – nacionais e mesmo internacionais – sem a dependência de recursos de estados ou instituições. Para realizar um Festival de Apartamento basta uma intenção, um espaço e uma ação, sumariamente contornando a dificuldade de obtenção de "locais apropriados" com a simples utilização das residências dos próprios "conspiradores".

Depois da realização do II Festival de Apartamento "Sechiisland", em 9 de Fevereiro de 2008, o grupo estabilizou sua formação em quatro membros: José Roberto Sechi, Rodrigo Emanoel Fernandes, Ludmila Castanheira e Thiago Buoro (membro fundador do grupo original, agora retornando), iniciando assim uma nova fase em suas atividades e objetivos, entre os quais a ampliação das possibilidades do conceito de Festival de Apartamento e a superação das limites impostos pelo provincianismo da cidade onde a Sechiisland desafortunadamente se localiza.

Rompendo fronteiras, o III Festival foi organizado não pelo AcompanhiA, mas sim pela artista plástica Viviandran, em Santiago, Chile, no dia 10 de Junho de 2008, com o título III Festival de Apartamento "Peninsula Dran". Coube ao AcompanhiA a organização do IV Festival, dessa vez na residência de Ludmila Castanheira, em Barão Geraldo, Campinas/SP. O evento aconteceu no dia 9 de Agosto de 2008, contando com a participação de doze performers e o apoio cultural da produtora Fósforo Arte, responsável pelas filmagens.


Registro das Performances:
(Fotos: Tonhão Madureira, Patrik Vezali, André Sampaio e Fernando Parolin)

Sorvênus

Grupo AcompanhiA
José Roberto Sechi, Rodrigo Emanoel Fernandes, Ludmila Castanheira, Thiago Buoro

Com a sala às escuras, três performers, Sechi, Rodrigo e Thiago, descem as escadas e passam a circular pelo ambiente, iluminando-o parcialmente com os fachos das lanternas atadas aos corpos. A certa altura a performer Ludmila é localizada entre os presentes e levada ao centro da sala, onde é despida e conduzida a uma bacia de plástico vazia. Por fim, é enrolada com pisca-piscas de Natal e assume a imagem da Vênus de Botticelli. Os três performers apagam suas lanternas e esvaziam latas de cerveja na bacia, para então curvarem-se, e beber toda a cerveja com canudos plásticos.






Infanto
Adriel Visoto

"A performance consiste no retorno à memória sexual na infância... A ação ocorre dentro de uma estrutura com diversos elementos que remetem à criança, junto a objetos de fetiche sexual e sadomasoquismo. Através da fusão desses elementos e das texturas sonoras experimentais, proponho brincar com a construção do indivíduo espelhado nas experiências sexuais ocorridas na infância." (Adriel Visoto - Catálogo do Festival)







Memória Velada
Gilio Mialichi

"O trabalho estabelece relação entre uma imagem virtual resgatada da memória e a imagem materializada do hoje. A ação tem como proposta um encontro simulado entre duas pessoas e é através de uma projeção de imagem e da ação de pintar que se dá esse encontro." (Gilio Mialichi - Catálogo do Festival)






Desde la peninsula a la isla
Viviandran e José Roberto Sechi

Este trabalho se dá concomitante à reprodução de um vídeo gravado em Santiago, Chile, pela performer Viviandran. No vídeo ela realiza algumas ações como o preparo de um jantar para duas pessoas, mas come sozinha. Em seguida, é tatuada com um desenho criado pelo performer José Roberto Sechi e, enquanto o vídeo exibe esta ação, o performer pinta o mesmo desenho num tecido sobre o chão, coincidindo com o tempo da tatuagem no vídeo. O performer abre uma garrafa de vinho e enche dois copos, para então beber um. Por fim o vinho é partilhado com o público.
… en video y en vivo ... acciones empezadas en la peninsula dran, completadas e ressignificadas na ilha sechi, país nômade. ... em vídeo e ao vivo ... (José Roberto Sechi - Catálogo do Festival)






mel-o-drama
Thaíse Nardim

A performer inicia usando um sobretudo e recita, mecanicamente, a letra de "Um dia, um adeus", de Guilherme Arantes, em um megafone . Ela utiliza os recursos do aparelho para gravar e reproduzir o refrão da música em looping. Então retira o sobretudo, revelando o tronco enrolado com cordão vermelho. Metódica e repetitivamente, ela desenrola e amarra corações de frango no cordão a intervalos regulares. Uma vez concluído o processo, ela passa a atravessar cada um dos corações com espetos de churrasco, retirados de seu tronco, onde estavam fixos por fita adesiva. Neste processo, ela enrola novamente o cordão no tronco. Durante todo esse tempo, o megafone repete o refrão gravado: "...ninguém mais, como ninguém jamais te amou, ninguém jamais te amou..."







De Plástico
Rodrigo Scalari e Ludmila Castanheira

"Dois artistas, alguns encontros e a vontade de estreitar nossa relação em uma ação. A possibilidade de abrir canais de diálogos práticos a partir de quaisquer materiais nos interessa, de fazer emergir uma estética do momento, do nosso momento, e, sem demasiada preocupação, colocar algum material próprio em choque com o outro. Que movimentos desejamos fazer? Como recriar em ações nossos desejos? É preciso costurar as nossas peles, fabricar um novelo único de nossas singularidades e vestir o espectador-performer com a nossa carne. Enfim, em primeira instância apenas uma primeira proposição." (Rodrigo Scalari & Ludmila Castanheira - Catálogo do Festival)






Estranho, eu não sou Hamlet
Flávio Rabelo

"Agir, ou não agir? Não mais apenas ‘ser ou não ser’? E sim, e principalmente, como ser ou não ser? O paradoxo invade a ação e entre personagem, persona ou pessoa não há mais certezas ou dúvidas; há certezas e dúvidas. Ator? Interprete? Perfomer? Eu não sou Hamlet. Mas, poderia ter sido? O filho do rei transformado em mendigo fingindo ser um ator perguntando: “por que eu?” Um homem em conflito, eis a questão. Quantos podemos ser? O que se esconde por trás do que pensamos ser? O que os outros pensam que eu sou, sou? Ou não? Quantas camadas entre o que está dentro e o que é visto por fora. E quanta transformação neste fluxo de relações. Máscaras de pele de papel e tinta impressa. Pele de fio vermelho. A fantasia de mim mesmo. Um velho despertador quebrado, um espelho, papéis em branco, bonecas e flores secas. Linhas e dobras do jogo de um corpo exposto. Dentro ou fora? Pesquisa desenvolvida no programa de mestrado do Instituto de Artes da Unicamp. Orientador: Renato Ferracini, co-orientador: Fernando Villar (UNB). Parceria: Zecora-Ura Theatre /UK. Financiamento: FAPESP. (Flávio Rabelo - Catálogo do Festival)






Casulo N.o. 1
João de Ricardo

"[Hoje em dia as pessoas apreciam apenas a luz. Mas a quem a luz deve a sua própria existência? Às costas das trevas, pois elas carregam luz." Tatsumi Hijikata] Essa ação faz parte da pesquisa de mestrado de João de Ricardo com o título provisório de ARQUIPÉLAGO: O Agencimente entre o encenador e o performer. Instituto de Artes – UNICAMP; Orietação: Prof. Dr. Mário Santanna. essa noite eu sonhei que eu estava numa aula de anatomia. era aluno e ao mesmo tempo cadáver. eu conversava com os vivos sob o ponto de vista dos mortos. eu observava os mortos sob o ponto de vista dos vivos. era executor e executado por uma EXPERIÊNCIA. colega de quem observava e de quem era observado. Ao acordar uma lagarta negra subia pelo marco da porta. [o essencial é a metamorfose. o ato de morrer. e o medo dessa metamorfose é geral. nele se pode confiar, sobre ele se pode construir" - Heinner Muller]" (João de Ricardo - Catálogo do Festival)






In Progress
Isabella Santana

"Este trabalho é o desdobramento da pesquisa de mestrado em processo de Isabella Santana. Esta performance lidará mais especificamente com temas relacionados ao riso, ao grotesco e ao cômico na Idade Média e Renascimento. Para tal apresentação, a artista propõe-se a (res)significar no topos da ação performática, estudos em torno destes gêneros, analisados na história por escritores como Mikhail Bakhtin, além do estudo de representações grotescas verificadas em esboços de Leonardo da Vinci e, nas gravuras de Andréas Vesalius e Hans Holbein. Como (res)significar estes elementos na ação, atualizando esses dados virtuais, como diria Deleuze, em estado de potência, relacionando ao estudo de notícias e imagens de terror contemporâneos, veiculadas na rede internet?" (Isabella Santana - Catálogo do Festival)






E, finalmente, entreatos, convívio e celebração:



Apoio Cultural:

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